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terça-feira, 13 de agosto de 2013

A EDUCAÇÃO PARA A AUTONOMIA EM PAULO FREI

CAPÍTULO IV - A EDUCAÇÃO PARA A AUTONOMIA EM PAULO FREIRE

4.6 - EDUCAR PARA TRANSFORMAR



      Para Freire (2000 a, p. 80), é uma contradição um ser consciente de seu inacabamento não buscar o futuro com esperança, não sonhar com a transformação, enfim, não buscar a construção de um mundo onde todos possam realizar-se com autonomia. Cabe à educação problematizar o futuro para que a utopia 56 de um mundo melhor não se perca. Dizer que a educação vai suprimir todas as injustiças, opressões, e assim mudar completamente a sociedade suprimindo todas heteronomias, é ingenuidade, da mesma forma que dizer que a educação não pode realizar mudança alguma. Temos que estar conscientes do nosso condicionamento, mas não somos determinados, há possibilidade da transformação. "A compreensão da história como possibilidade e não determinismo,..., seria ininteligível sem o sonho, assim como a concepção determinista se sente incompatível com ele e, por isso, o nega" (FREIRE, 1999, p. 92). Ao se reconhecer a possibilidade e manter vivo o sonho, o papel histórico da subjetividade, de transformar, recriar o mundo, adquire papel relevante. Como não estamos determinados, estamos abertos ao "inédito viável" (idem, p. 98). O poder de se autodeterminar é necessário para que o sujeito fuja do determinismo, esteja aberto ao inédito viável e, assim, possa ser autônomo.
      Freire (ibid, p. 99) insiste no que ele chama de humanização como vocação ontológica do ser humano, ou ser mais. Essa "vocação" não é um a priori, mas é algo que vem sendo construído pelo homem ao longo da história. A vocação para ser mais é expressão da natureza humana que se constitui na História e precisa de condições concretas sem as quais será distorcida. "Esta vocação para ser mais que não se realiza na inexistência de ter, na indigência, demanda liberdade, possibilidade de decisão, de escolha, de autonomia" (FREIRE, 2003 a, p.10). Ou seja, a indigência, a pobreza, a insuficiência de recursos materiais, limitam a possibilidade de decisão, limitam a liberdade, e assim, limitam a autonomia. Por esse motivo, uma educação que busca formar para a autonomia deve estar preocupada com a transformação dessas condições concretas que limitam a autonomia. Essa transformação tem caráter político, por isso a educação está vinculada indissociavelmente com a política.
      Uma educação que vise formar para a autonomia deve encarar o futuro como problema e não como inexorabilidade, a História como possibilidade e não como determinação. O mundo não apenas é, ele está sendo, o papel dos homens no mundo é de quem constata e intervém. A constatação só faz sentido se eu não apenas me adaptar, mas tentar mudar, intervir na realidade. A conquista do poder de ser autônomo exige a transformação das condições heterônomas que o limitam. Por isso, é preciso que a compreensão do futuro como problema, que a vocação para ser mais em processo de estar sendo, sejam fundamentos para a rebeldia de quem não aceita as injustiças do mundo. A autonomia encerra em si certa rebeldia, na medida que implica a não aceitação passiva e acrítica do mundo.
      Para que as condições concretas que limitam a autonomia sejam transformadas, é preciso reinventar o mundo de hoje e a educação é indispensável nessa reinvenção. Essa reinvenção do mundo exige comprometimento. Da mesma forma que não é possível entrar na chuva sem se molhar, não é possível educar sem revelar a própria maneira de ser, de pensar politicamente57 (cf. FREIRE, 2000a, p. 108). Por isso a importância da coerência entre o que se diz e o que se faz. Freire (idem, p. 110) nos diz que o professor não pode ser um sujeito de omissão, mas de opções. Como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo, o que implica além do conhecimento dos conteúdos, um esforço de reprodução ou desmascaramento da ideologia dominante. Neutra em relação à ideologia dominante a educação não pode ser (cf. ibid, p. 111). Freire (ibid) destaca que os interesses dominantes procuram promover uma educação cuja prática é imobilizadora e ocultadora de verdades. Mas os fatalismos que procuram deixar as coisas como estão devem ser negados, eles ajudam a manter uma situação que é imoral e heterônoma. A prática educativa que propomos deve ser uma tomada de posição frente ao mundo no sentido de transformá-lo para que condições heterônomas sejam superadas, para que se estabeleçam relações e condições que possibilitem a autonomia. 

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