“A história de Joana”
Preste atenção, amigo
Na história que eu vou contar
Não aconteceu comigo
Mas você pode se identificar
Trata-se de um amor não correspondido
Uma paixão de matar…
Era uma vez uma menina
Seu nome era Joana
Por todos era querida
Menos pelo menino que ama
Ela muito sofria
Porém ele não a correspondia
Ela fazia de tudo
Mas ele não a notava
Suas amigas diziam para esquecer
O menino que tanto amava
Mas ela não conseguia
Tirá-lo do coração
Toda vez que o via
Suspirava de emoção
Ele a ignorava
E ela morria de paixão
E um dia então
Ela resolveu se declarar
Falar pra ele quanto o amava
Já não agüentava mais se calar
Foi cheia de esperança
Se ele quisesse namorar. Ficar
Pelo menos tentar
Para ver no que dá
Chegou acanhada
A vergonha teve que engolir
Quando ela terminou
Ele postou-se a rir
E para todos falou
“Olhem só essa garota
O que veio me dizer
Que me ama imensamente
Ora, tenho mais o que fazer
Saia logo daqui
Posso ter melhores que você”
Todos riram dela
E Joana começou a chorar
Foi saindo de fininho
Andando bem devagar
Ela queria para sempre
Aquela cena apagar
Mas não conseguiu esquecer
A humilhação que passou
Um ódio começou a nascer
E então ela se vingou
Uma raiva enorme tomou conta
No lugar daquele amor
No outro dia, no intervalo
Todo mundo se calou
Quando ela apareceu
Uma arma sacou
E apontara para Mateus
O menino que tanto amou
Aos prantos começou a gritar
Estavam todos espantados
Não sabiam o que falar
Ela, então, começou a se pronunciar
Falou alto e claro e em claro tom
Para que todos pudessem escutar
Todos guardaram suas palavras
As quais irei lhes relatar
“Posso não ser o que você espera
Mais sou muito mais do que merece
Me arrependo por tê-lo amado tanto
Um garoto que não vale uma lágrima do meu pranto
Você me fez de idiota
Eu, a menina que mais lhe amou
Agora, olhe sua condição
Sua vida está em minha mão”
Mateus não sabia o que fazer
Mais não teve tempo para pensar
Joana não o perdoou.Os folhetos de cordel, com seus múltiplos temas e como se sabe esta riquíssima e sugestiva expressão literária popular que se encontrou fértil campo no nordeste brasileiro, espirada na literatura francesa Colportage, nos romances e pliegos sueltos hibéricos e na própria literatura de cordel portuguesa a nossa de literatura de folhetos (ou de cordel) nasceu e desenvolveu-se no nordeste brasileiro, cantando as sagas e a sabedoria do povo sertanejo. Atualmente, esta manifestação popular pode ser encontrada em diversos pontos do país, sempre incentivada pela comunidade nordestina.
O primeiro folheto que se tem noticia foi publicado na Paraíba por Leandro Gomes de Barros, em 1893, acredita-se que outros poetas tenham publicado antes, como Silvino Pirauá de Lima, mas a literatura de cordel começou mesmo a se popularizar no inicio deste século. As primeiras tipografias se encontravam no Recife e logo surgiram outras na Paraíba, na Capital e em Guarabira. João Melquiades da Silva, de Bananeiras, é um dos primeiros poetas populares a publicar na tipografia popular Editor, em João Pessoa.
Contrariando a austera do alto grau de analfabetismo, a popularização da Literatura de Cordel no Nordeste se deu mais pelo esforço pessoal dos poetas cordelistas, fora dos círculos culturais acadêmicos, contando suas histórias nas feiras e praças, muitas vezes ao lado de musicas. Os folhetos eram expostos em barbantes, ou amontuados no chão, despertando a atenção do matuto que se acostumou a ouvir os temas da literatura popular de cordel em suas idas às feiras, verdadeiras festas para o povo do sertão, nas quais podiam, além de fazer compras e vender produtos, divertir-se e se inteirar dos assuntos políticos e sociais.
Pode-se falar em Literatura de Cordel como um conjunto de autores, obras e publico. O poeta cordelista, na maioria das vezes de origem humilde e proveniente do meio rural, migrava para os grandes centros urbanos onde passava a tirar seu sustento da venda dos folhetos, chegando, algumas vezes, a funções de tipógrafo e editor. Neste contexto, ele se tornava verdadeiro mediador das concepções das classes populares nordestinas, já que compartilhava a mesma ideologia e valores de seu público.
Os folhetos, confeccionados em sua maioria no tamanho 15 a 17cm x 11cm e, em geral, impresso em papel de baixa qualidade, tinham suas capas ilustradas com xilogravuras na década de 20, em substituição as vinhetas. Já nos anos 30 a 50, surgiram as capas com fotos de estrelas de cinema americano. Atualmente ainda mantém o mesmo formato, porém são encontrados outros maiores. Quanto à impressão, substituído a tipografia do passado, hoje são usadas as fotocópias.
Os temas da Literatura de Cordel são muito estudados por folcloristas, sociólogos e antropólogos que chegam a apresentar conclusões polemicas e algumas vezes contraditórias quanto a sua classificação. Detalhes a parte, quanto a varias propostas, os folhetos se dividem entre os assuntos descritivos e os narrativos. È no primeiro grupo que estão incluídos os folhetos de conselhos, eras, corrupção, profecias e de discussão, que guardam um certo parentesco em si, por encerrem uma mensagem moralista freqüentemente ligada a uma ética e a uma sabedoria sertaneja.
Nesta área multiplica-se as histórias que trazem como pano de fundo a vida dura do campo cheia de sofrimentos, mais alheia aos desmartelos do mundo moderno e urbano. Também se encaixam nos folhetos descritivos as pelejas entre cantadores e poetas, as personalidades da cidade e da política (muitas vezes encomendadas pelos próprios políticos em época de eleição), os temas de louvação ou critica, os religiosos contando preconceitos e virtudes católicas, as biografias ou milagres dos santos e de figuras como Padre Cícero e Frei Damião. Há ainda os de gracejos de acontecimentos reais e imaginários, de bravura e valentia como os feitos de Lampião, Antonio Silvino e Pedro Malasarte, entre outros que a literatura popular transformam bandidos em heróis.
As características gráficas e temáticas dos folhetos podem variar de acordo com o deslocamento da área de atuação do poeta que muitas vezes se depara com um publico de concepção e comportamento diferente do matuto nordestino.
Ao falar de literatura de cordel no nordeste não se pode esquecer de Antonio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré, referencia no município em que nasceu. Analfabeto “sem saber as letras onde mora”, como diz num de seus poemas, sua projeção em todo Brasil se iniciou na década de 50, a partir da regravação de “Triste Partida”, toada de repente gravada por Luis Gonzaga (ver anexo).
Sua imaginação poética serviu vassala a denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir às condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere à estrofe da música Cabra da Peste.
“Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que alinda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome.
Olho para a fome, pergunto: que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.”
Dentre os grandes nomes da xilogravura nordestina não se pode deixar de falar em um gênio que é o DILA- José Soares da Silva, residi em Caruaru-PE, onde estalou uma rústica oficina gráfica para imprimir os seus folhetos. É um dos mais respeitados xilogravura do nordeste brasileiro, trabalhando com sua arte com lâmina de barbear em pedaços de madeiras em pedaços de madeiras umburana. No qual fabrica capa de cordéis ate rótulos de garrafas de aguardente e outros produtos. É um dos poucos que, alem da madeira, utiliza a borracha para talhar as xilogravuras, alem de seu local de trabalho, transformou –se num ponto de atração turística.
3 – ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÕES
A aprendizagem, trata-se de um processo, pelo qual o aluno se apropria das experiências de ensino do cotidiano, o qual analisa para futuramente explorá-la no meio em que vive. Nesse intere de relação existente entre professor e aluno, vem-nos a pergunta, qual seria a melhor maneira de se aprender Literatura, quando os alunos de hoje têm a leitura como uma “tortura”?
Na verdade, percebe-se que o professor, bem como a Escola devem estar aptos a captarem a melhor forma de ensinar, se responsabilizando na melhoria da qualidade da educação, conforme bem asseverou Paulo Freire, 1985:77, “Queremos ter uma escola viva , em que se viva a cidadania e não uma escola onde um dia se sonhe em ser cidadão. A infância já cidadã, é ser vivo já, é ser social já”.
A arte, trata-se da melhor forma de chamar à atenção do aluno, pois propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que se caracteriza em um eu particular de cada aluno. A questão do ensino da leitura literária, envolve um exercício de reconhecimento, fazendo estarem presentes na escola em relação aos textos literários.
Daí surge a Literatura de Cordel, como meio incentivador para o ensino de literatura. Na verdade, essa Literatura bastante desconhecida aqui mesmo na região nordestina, onde dela se extrai um grande número de cordelistas, percebe-se que as escolas não trabalham esse tipo de literatura, que é bastante excluída nas salas de aula, bem como nos livros didáticos.
Ora, a literatura de cordel, trata-se de um veículo de fabuloso fomento à identidade regional, foi por muitos anos a principal forma de veiculação de notícias em vários Estados do Nordeste. Hoje, sem muita importância, é pouco desenvolvida por alunos em salas de aula, os quais poucos a conhecem.
Destacando o texto de José Romero Araújo Cardoso, ao tratar dessa literatura bastante desconhecida em seu artigo “A Importância do Cordel na Sala de Sula”, o qual destaca iniciativas como a de Arievaldo Viana, através do projeto intitulado “Acorda Cordel na Sala de Aula”, ressalta a importância de se estudar o cordel em sala, ou seja, como forma de incentivo no ensino da literatura.
Romero destaca as atividades desenvolvidas por Arielvado, onde o mesmo desenvolve sua verve extraordinária alertando sobre a necessidade de primar por normas ortográficas e gramaticais corretas, tendo em vista que o cordel, quando usado para alfabetização, principalmente de jovens e adultos, os quais já por estarem com uma idade já considerada avançada em se alfabetizarem o cordel entra nesse cenário como a melhor maneira que Arievaldo Viana encontrou para a alfabetização de jovens e adultos.
Romero ressalta, ainda, em seu artigo a influência do cordel na vida de Arievaldo, o qual desde a infância, quando se verificou o contato do mesmo com grandes nomes das bravuras e feitos épicos narrados primorosamente em folhetos de diversos mestres do passado. Destaca, ainda, que o Cordel tinha decisiva importância na formação do povo nordestino em razão que o advento do rádio e da televisão era pouco enfático.
De acordo com Arievaldo Viana, a escola exclui o cordel da sala, mostrando outro tipo de literatura difícil para quem está acabando de aprender a ler e escrever:
As pessoas acabam de aprender a ler, e a escola oferece logo livros do Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Drumond e outros autores. São excelentes escritores e poetas, mas o texto deles, para quem acabou de começar a ler, é muito denso e difícil de entender. Por isso, eu acredito que seja necessário que as escolas de ensino fundamental utilizem, nas bibliotecas, os folhetos de cordéis porque são textos simples e mais agradáveis para quem acaba de começar a ler e se familiarizar com a escrita.
(Diário do Nordeste)
Conforme o que acredita Arievaldo Viana, os versos em cordel são mais fáceis de serem memorizados, devido à rima agradável. Por isso, além de promover a leitura, o trabalho educativo com os cordéis se estende para outros tipos de conhecimento.
Arievaldo se destaca por apresentar um célebre projeto dos cordéis em sala de aula, o qual existe há mais de cinco anos e foi pioneiro na cidade de Canindé, depois alguns municípios de outros estados do Brasil, os quais aderiram ao projeto de Arievaldo e já o estão desenvolvendo.
Outro projeto, bastante discutido foi o que aconteceu na zona rural da cidade de São Gonçalo do Amarante/Ce, com a professora Francisca das Chagas, da Escola de Ensino Fundamental João Pinto Magalhães, intitulado “Rimas que encantam”, discutido por Denise Pellegrini, a qual ensinou seus alunos a utilizar o conhecimento regional (cordel) para melhorar a leitura e escrita, cabendo frisar que a referida professora com esse trabalho que fez em sala foi merecedora do prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita.
Conforme Francisca das Chagas relatou, o projeto teve como objetivo maior a informação, onde se pesquisaram vários autores de cordéis, a definição, alguns poemas, dentre os quais se destacou Patativa do Assaré, donde os alunos recitaram e copiaram alguns poemas dele.
Ainda em relação, ao Projeto da professora Francisca das Chagas, conforme Denise Pellegrini ressaltou a professora referida de inicio estava um pouco apreensiva, porém com o desenrolar do projeto, percebia-se o interesse dos alunos pelo Cordel.
Ao analisar, o artigo “Cordel para iniciantes. E iniciados” de Joana Lira, a mesma relata os trabalhos apresentados pelas professoras Sandra Lúcia de Souza Menezes e Margaret Mota de Lima, do Instituto Educacional O Canarinho, de Fortaleza, as quais utilizaram do Cordel como meio incentivador para o aprendizado do aluno, as quais destacaram que a Literatura de Cordel foi por muitos anos a principal forma de veiculação de notícias em vários Estados do Nordeste e que com o tempo foi perdendo a importância e hoje, muitos estudantes desconhecem esse tipo de literatura.
Percebe-se que um professor ao utilizar da literatura de cordel e textos de Patativa do Assaré para quebrar, preconceitos da arte literária, mostrando aos alunos que a língua popular muitas vezes é ridicularizada, porque o povo é discriminado, irá fazer com que os alunos descubram a rega gramatical desses versos, trabalhando assim a literatura e a linguagem, fazendo com que os mesmos redescubram um linguagem rica em rimas e versos, desmoronando assim o pensamento de que certo é só o que está na mídia.
Pois bem. É necessário partir da idéia básica de que o Cordel em si, trata-se de um texto literário de suma potencial de produzir, o qual não se origina obrigatoriamente de uma necessidade prática – não constitui uma resposta a uma solicitação imediata e, por isso mesmo, se constitui num exercício de liberdade lingüística como nenhum outro uso que se consegue ser.
Assim, à Escola, em geral, e ao Ensino Médio, em particular, devem injetar a Literatura de Cordel no ensino de Literatura, porque só assim o aluno conseguirá perceber e exercitar as possibilidades mais remotas e imprevistas a que a sua Língua pode remeter.
Na verdade, percebe-se que o que fora discutido acima, trata-se de opiniões que foram ratificadas por pessoas que estudaram a fundo o tema, verifica-se, que as escolas de hoje, estão querendo se adaptarem ao novo estilo de ensinar, compreendendo os valores e etnias dessa geração e quais são os meios que se prendam à atenção dela. Sabe-se, ainda que há muito a melhorar, mas os erros, as perspectivas foram apresentadas, como aqui mesmo fora estudado, e corroborado por diversos projetos que injetaram o cordel no ensino de literatura.
4 -CONCLUSÃO
Ao terminar este trabalho, vi e entendi como a Literatura de Cordel, enquanto veículo do imaginário popular, refaz os caminhos enviesados do olhar matuto, reconstitui a maneira do sertanejo reagir ao mundo e, mais do que isso, deixa pistas do sistema complexo sobre o qual se edifica seu sentimento de contestação.
Manifestação artística viva em sintonia estreita com visão popular, a Literatura de Cordel oferece aos pesquisadores um espaço sempre aberto de reflexão sobre uma maneira peculiar, por vezes contraditória, mas não menos preciosa, de se pensar o mundo e de afirmar a identidade, traçando caminhos de subversão e de liberdade, protesto, convertendo o espaço poético numa arena de luta.
É que o povo sofrido, alimentado por sentimentos de inferioridade, constrói suas próprias maneira de dar sentido a uma existência sofrida e de recuperar um pouco da dignidade ofendida, e de negação da realidade na qual o povo se vinga do opressor, a Literatura de Cordel se oferece para a Literatura de uma forma geral como veiculo da revolta artística elaborada, dando à ficção a potencialidade da luta e da subversão.
5 – REFERENCIAL TEORICO
ABAURRE, Maria Luiza M; PONTARA, Marcela, Literatura Brasileira: tempos leitores e leituras, volume único, São Paulo, editora moderna, 2005.
ABAURRE, Maria Luiz e PONTORA, Marcela. Literatura Brasileira, tempos leitores e leituras. Ed. Moderna. Ensino Médio
ABLC – Academia Brasileira de Cordel . Academia Brasileira de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva, Literatura Brasileira, Literatura popular, Duelo de Repentistas
CORDEL,Literatura de. Disponível em: www.guiape.com.br/culturais/literatura de cordel.html.
Diário do Nordeste – caderno 3
DUARTE, Marcelo. O Guia dos Curiosos., língua Portuguiesa. São Paulo. Pand 12003.
FERREIRA, Mauro. Entre palavras, nova edição/ 2.edição – São Paulo:
Editora FTD ,2006.(coleção entres palavras)
FREIRE, Paulo, Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. 77p.
GERIN, Júlia; PORTO, Márcia Flamia; NASCIMENTO, Rubi Rachel.
Volume integrado, 1; 5ºe 6º séries Língua portuguesa ; Educação Jovens e Adultos, Curitiba: Editora Educarte,2006
LIRA, Joana. Cordel para iniciantes. E iniciados. Mundo Jovem numero 335 abril 2003.
NICOLAS, José de. Literatura brasileira das origens aos nossos dias; 15ª edição, São Paulo, editora Scipione, 1969.
BARSA, Enciclopédia. ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES LTDA.